Conhecendo um pouco mais sobre os Ciganos
O MISTICISMO, E AS CERIMÔNIAS CIGANAS.
``Ciganas enfeitadas,
Ciganas dançarinas,
Leia em minhas mãos
E em suas cartas,
As linhas da minha vida,
Vida de luta,
Vida de dor,
E diz a cigana...
Pare e só pense
no amor (...)´´[1].
O misticismo sempre esteve associado a vida cigana, nos
refrãos do poema cigano acima descrito nos mostra o mítico da leitura da sina e
da colocação de cartas para desvendar o destino humano, mas também nos
apresenta, o pulo por cima que os ciganos parecem saber dar melhor que os não
ciganos, é que apesar do sofrimento das lutas e da dor, saem dançando e
cantando e se enfeitando para derrubar obstáculos, esta força e este lado
místico dos ciganos, esteve vivo também no Brasil desde sua chegada até nossos
dias atuais.
A autora de origem cigana da linhagem Kalderasch, Jordana
Aristich em seu livro `` Ciganos, a Verdade Sobre Nossas Tradições ´´, diz Ter:
``(...) os ciganos dons divinos, acreditam na reencarnação
como evolução, e que estão no mundo por obra divina para praticarem o dom da
adivinhação, nem pelas perseguições durante séculos, valeria perder tão
preciosa mediunidade, possuem o dom da cura com práticas de uso de ervas e
amuletos, dizem evitar tragédias, tem forte energia no olhar, captam energia
através do olho místico ou seja a terceira visão, não aprendem com cursos e
palestras, é dom já nasce com o cigano, há preceitos que devem ser respeitados
para que esta dádiva permaneça uma delas é a mulher cigana não deve cortar os
cabelos[2], para que sua energia não se acabe, usam vários oráculos para
previsões das cartas a bolas de cristal, a leitura das mãos não é só para
prever o futuro é para averiguar enfermidades também, isto não é feitiçaria,
pois na China e Japão, usam a quiromancia na medicina e várias religiões usam a
impostação das mãos para obtenção de cura, os ciganos não fazem bruxarias mas
sabe desmancha-las como ninguém (...)´´.
Outra cigana, diz:
``(...) E na palma da mão que está traçado o destino, os
profetas, predestinadores e videntes sempre existiram, Nossa Senhora, Maria mãe
de Jesus recebeu a profecia que sete lanças atravessaria seu coração, ou seja,
seria as dores de ver o sofrimento de seu único filho, reis e rainhas, gadjos
que tiveram poder sobre nações, alguns deles sempre recorreram a interpretação
do futuro, e nós ciganos como ninguém temos o dom da vidência, pois nascemos
sobre tendas, dormimos sob a lua e seus orvalhos observamos a natureza e seu
transcurso natural, pois a respeitamos e fazemos parte delas não a destruímos
como fazem os gadjes, respeitamos sua força que é superior a nossa e é dela que
retiramos nossas energias (...)´´.
A romli, a cigana, Ira Petrovitch, acrescenta:
``(...) E nas linhas das mãos que está traçado o destino,
nas cartas enxergamos o futuro e no amor obtemos a força para reger a vida
(...)´´[3].
Na verdade a cartomancia já foi um dos melhores meios de
subsistência cigana, a leitura da sina, a buena dicha, as mulheres recolhem o
dinheiro com a leitura da sorte, deste lucro sustenta sua família, é uma forma
cultural de sobrevivência encontrada pelos ciganos desde seus primórdios, foram
ás ciganas perseguidas muitas vezes pela prática da adivinhação, mas o fato é
que o elemento mágico está inserido ao universo cigano.
``Continuam a ser astutos, velhacos, errantes e miseráveis,
procurando viver da pirataria, da troca nas feiras, enganando compradores e
vendedores. São conhecidos por ladrões de cavalos. Às vezes se dedicam à
confecção de objetos de cobre[4], que procuram vender nas feiras. A princípio o
bando trazia sempre um urso e macacos que dançavam ao som de pandeiros e
meninos que faziam acrobacias[5]. As mulheres liam, de preferência, a buena
dicha, do que faziam fonte de receita (...) os ciganos são excessivamente mentirosos
(...)´´[6].
Os ciganos usam jóias não só para sua vaidade própria mas
também como amuletos de proteção, para dar sorte, as mulheres por exemplo em
grande parte carregam um anel de cobra no dedo, isto para proteção e espantar o
olho gordo, as jóias tem símbolos sempre relacionados a defesa, mas é lógico
que o ouro para os ciganos esta relacionado a poder transportar seus bens, como
o povo beduíno do deserto carregam toda a sua riqueza com eles, os judeus e os
ciganos costumam Ter seu ouro em caso de fuga, guerra e perseguições levam
consigo o que puderem, no caso da Segunda Grande Guerra Mundial, algumas jóias
salvaram muitas vidas, hoje o ouro está empregado em imóveis e outros bens. O
ouro trazia austeridade, era uma espécie de poder, um líder cigano, de seu
grupo ou de sua família, tem seu medalhão e seu anel, no casamento o ouro esta
presente como no nascimento, ciganos que viveram séculos passados eram
enterrados com suas jóias, mas com o passar dos séculos e a saques de
cemitérios e túmulos, isso não fora mais permitido, ao morto em seus olhos eram
posto moedas de ouro para que pagasse a passagem para o além, uma herança dos
funerais gregos. Os ciganos nascem, vivem e morrem com o ouro, o ouro faz parte
dos ciganos.
Os ciganos são ligados aos animais, e gostam de ter contato
com eles, é improvável ver um cigano maltratar um animal isto para ele seria
impuro, e não traria sorte trazendo maus augúrios, os cães e cavalos são seus
irmãos, há entre os ciganos listas de presságios como se refere Mello Moraes
Filho:
Estalos de baratas que rói, logo se terá casamento; zumbido
de besouro que entra pela janela e some, logo falecerá alguém da família;
borboleta preta em casa é sinal de má sorte; se e branca morte de criança
pequena; azul casamentos e prazeres; sapo cantando é desgraça tremenda se
estiver no quintal da casa; rato transitando de um lado para outro na sala é
sinal de moléstia e desavenças familiares; o grito do pato é chuva; se bate
asas é temporal; se grilo canta no quarto de dormir chegará alguém distante; se
o canto for à porta da rua este alguém ira fazer viagem; o uivo do cão é
desonras e mau agouro, parente que morre ou em perigo; se o cão virar de
barriga para cima no assoalho é gente que chegará de fora; se urina dentro de
casa é fortuna; a risada da coruja é anúncio de morte[7].
O canto do galo afugenta as trevas e os obsessores e
espíritos da noite, o galo protege a vida, dos pés dos galos os ciganos faz com
as garras uma arma mortífera capaz de esfacelar uma barriga humana, abri-la
como uma navalha.
Há entre os ciganos uma riqueza de rezas, benzeduras,
simpatias e pragas pois o cigano com raiva pragueja e cospe ao chão, com
repulsa e desprezo a algo feito ou cometida a eles, ou por algum dos seus.
Quando uma criança está doente ao defumá-la reza-se:
``Nossa Senhora defumou seu bento filho para cheirar, eu
defumo o meu para sarar ´´
Grande parte desta riqueza de superstições, esconjuros e
rezas são de fontes ciganas, as sacerdotisas ciganas de nossa teurgia popular
[8].
O casamento para o cigano é de maior importância, valorizado
pois é a permanência de sua etnia, é o ritual é mítico e religioso, esta união
é decidida pelo pai, um pacto social entre as famílias, e é feita em tenra
idade dos 14 aos 16 anos, isso varia um pouco de cada grupo, há um curto
período de noivado e não podem namorar nem estarem sozinhos até o casamento,
sempre com alguém da família responsável ao lado, é um povo monogâmico, uma
forma tradicional que assegura a fidelidade e o respeito a família, a festa
dura vários dias até haver dinheiro para as despesas, enquanto durar o dinheiro
durará a festa e consiste em muitos convidados, que darão presentes diversos ao
novo casal, presentes estes de extrema qualidade.
Em determinados grupos há o rapto da noiva, está fuga se dá
após o acordo com as famílias, a festa é realizada em ar livre, é celebrada de
forma diferente dependendo da comunidade, os homens rasgam os colarinhos e
camisas uns dos outros, é realizada a ``cerimonia da boda´´[9], na barraca da
noiva que se veste de branco, só as casadas participam desta cerimônia e destas
só as que também obtiveram os ritos da boda cigana mulheres de certa idade do
seu clã, uma mulher idosa se propõe a tarefa que tem como objetivo comprovar a
virgindade da noiva, presente a mãe do noivo e da noiva, madrinhas e outras
participantes todas ciganas, jamais uma não cigana participará desta prova.
Há canto ao lado de fora os homens cantam em língua cigana,
suas canções referentes ao ato, ao terminar é dito ``Juro pelos mortos[10]
daquela que não estiver de acordo com o que fizemos, que o diga agora ´´, esta
consumado o casamento, o padrinho pega a noiva ao colo e dança com ela à festa,
é orgulho para sua família , quando tudo dá certo pois a filha provando sua
virgindade ela dignifica a família e honra a seus pais, os noivos fazem o
juramento perante aos pais, quebram as taças se referindo que o amor só se
acabara quando os pedaços se juntarem, recebem a benção de seus pais, daí a
noiva atira amêndoas aos convidados, outros quebram um cântaro com a mesma
finalidade estes recolhem os cacos e os guarda, se chama isto de ``quebra da
bilha ´´, novas músicas em língua cigana, são tocadas, as canções falam da nova
vida dos noivos, o casal viverá com os pais do noivo, só irão viver sozinhos
após o nascimento do primeiro filho, após o primeiro filho o noivo ganhará
respeito pela comunidade, este respeito é uma espécie de que realmente se
tornou homem adulto, homem de respeito.
No nascimento, a cigana grávida é coberta de atenções e
proteção, há nervosismo da parte do pai como em qualquer homem de outra etnia,
pois amam seus filhos, sua razão de viver, procuram ter muitas crianças, são
raros somente um ou dois filhos, pois ao casarem cedo e uma família numerosa é
melhor para se manter nas dificuldades, é uma garantia e visão de futuro, pois
não se vê ciganos idosos em asilos ou abandonados como vemos no mundo dos não
ciganos, quando não mais tem seu sustento, caso não tenha construído uma vida
financeira estabilizada alterna-se na casa de um filho e de outro que o tratará
com todo respeito e carinho, não é visto este fato como um obstáculo e sim como
uma honra, tem horror os ciganos quando se falam em abandonos, Ter muitos
filhos é sinal de prestígio entre os ciganos[11]. As crianças são por demais
mimadas, o que nos mundo dos não ciganos seria inadmissível tal liberdade,
poucas freqüentam à escola, e desta minoria muitas não tem o rendimento
necessário para continuar, abandonando a escola, o que não é de importância
para os pais, pois fora da escola não assimilam os hábitos dos não ciganos.
A liberdade das crianças é total, respeitam os pais e os
valorizam, ao nascer seguem um ritual chamado Babina, ao nascer a criança, e
levado pela família, um frango, uma cebola e um vinho onde rezas em romaní
serão referidas, para saúde, sorte e prosperidade da criança, estes elementos
não são cortados com a faca, são repartidos com as mãos, e distribuído aos
presentes.
O primeiro banho da criança, será com as jóias da família,
algumas moedas de ouro tudo limpo e fervido, antes este banho continha vinho,
rezas são faladas para sorte financeira do recém nascido e sua proteção para
manter os preceitos de seu povo e ser homem digno e honrado pois a honra para o
cigano vale mais que um baú de ouro, um cigano não mente para outro cigano, nem
o engana.
Dentro do comportamento cigano observamos um código de honra
e respeito imutável, todos se consideram primos entre si, é uma raiz que se
liga, se um cigano estiver em outro continente, um cigano de lá o acolhera e o
ajudará de alguma forma, lógico que entre eles há os desonrados estes estão
fora da comunidade, são considerados impuros para permanecer em sua família e
clã, um cigano excluído e como morto para os outros, não participa mais de nada
é visto como um verme, o mesmo se refere ao adultério que é inaceitável no meio
cigano.
Na morte, não se lembram dela enquanto vivem, não querem
pensar nisso isolando pensamentos ou palavras referentes ao luto, quando morre
um cigano o desgosto dos familiares é estremo, no passado chegavam a usar luto
durante anos, cabelos e barbas crescem nos homens estes evitam corta-las, as
viúvas cortam os cabelos que são colocados junto as flores e posto no caixão do
morto, é a única ocasião em que as ciganas cortam os cabelos[12], não casam
mais e permanecem com o luto. Choram, gritam, assim é o comportamento cigano no
velório, a tristeza como em qualquer etnia é mantida em relação aos familiares,
pois os ciganos tem uma ligação de respeito aos mortos, não falam mas respeitam
acreditam na continuação da existência daquele ser, pode aparecer e até
prejudicar os vivos segundo suas crenças, seus rituais tem como objetivo
defender os vivos e encaminhar o morto ao reino dos mortos, cantam cantos
fúnebres, e após 30 dias é feito uma mesa para o falecido onde todos comerão o
que ele mais gostava, as suas especiarias, e a cabeceira da mesa será posto seu
prato para saciar sua fome pós morte, ainda não adaptado ao mundo espiritual,
sentindo a necessidade física da carne mesmo estando em espírito, no passado
levam alguns grupos, comida para o cemitério para celebrar, comem e repartem os
alimentos com o falecido. Em uma trova filosófica reflexiva:
`` Até nas flores se encontra
a diferença de sorte
umas, enfeitam a vida;
outras, enfeitam a morte ´´[13].
Há três coisas que os ciganos mais respeitam, Deus, o
sobrenatural e a justiça cigana.
Os ciganos adquirem a religião oficial do país em que vivem,
no caso do Brasil temos a maioria católica, Católica Apostólica Romana, temos
ciganos ortodoxos (são uma boa parte), muçulmanos, evangélicos, espíritas,
esotéricos, inseridos direta ou indiretamente a maior parte nas religiões e
cultos, os ciganos não tem dogmas somente querem manter e preservar suas
tradições e costumes.
No Brasil a figura do cigano está inserida na Umbanda, onde
se torna uma entidade viva de manifestação mediúnica para consultas à clientes
em busca de soluções para seus problemas. Há muitas ciganas espíritas e que
trabalham com os orixás e entidades como os Exus, encontram nas Pomba
Giras[14], uma força para atender seus clientes, não obrigam a ninguém, vai
quem quer.
Hoje a Igreja Evangélica ganha muitos adeptos ciganos,
inclusive há ciganos pastores, com igrejas, que se converterão evangélicos
abandonado todas as superstições. Suas mulheres não mais atendem à clientes
para a leitura da sorte, seguem as normas da organização evangélica, é difícil
imaginar os ciganos desgarrar de suas crenças e costumes, mas vemos o
crescimento Evangélico dos ciganos no Brasil e fora dele.
`` Os ciganos acreditam num Deus e num espírito do mal, bem
como nas almas dos mortos.(...) ultimamente prolifera entre eles a prática do
``culto´´ reuniões dadas na Igreja Evangélica de Filadélfia Cigana ´´[15] .
Observamos que a religião para o cigano não deixa de ter uma
adaptação ao meio, econômico, social e cultural, principalmente em momentos de
dificuldades em que passam.
`` O cigano é profunda e intrinsecamente religioso, mesmo
que desconheça todas as definições de religião e não saiba responder nem uma só
palavra se lhe perguntarem o que entende por religiosidade. Um dos grandes
valores de que os ciganos mais nos orgulhamos é, certamente o respeito
religioso que habita no mais íntimo da nossa própria essência. Não só pela
ascendência oriental da etnia, onde a religião e a superstição, em mescla
difícil de definir, se confundem, mas também por causa da própria exigência do
ciganismo, a religião e a crença é algo superior que vela constantemente pelas
criaturas, é parte vital da nossa idiossincrasia natural ´´[16].
Há uma tradição dos ciganos que realmente é muito
interessante e bonita se chama Slava, que é uma celebração ao santo de devoção
do cigano, está comemoração no passado deve ter sido criada, a partir do
momento que aderiram ao Catolicismo, e se refere ao seguinte: Um avô por exemplo,
faz uma promessa a um santo, e dele se torna devoto, todos os anos de sua vida
ele celebrará em sua casa ou tenda, o dia deste santo, após sua morte esta
comemoração passará ao filho, e deste para outro e assim por diante, mas este
santo sempre será lembrado e terá sempre sua comemoração que consiste em ser
acesa as 12:00 uma vela feita pelo cigano, o santo padroeiro está posto a mesa
onde está a vela, os convidados chegam, há um ritual com o pão cortado em cruz
e o vinho é derramado sobre ele, comesse então um pequeno pedaço, e os
convidados recebem uma parte deste pão que fora abençoado (este pão segundo
lendas fora ensinado aos ciganos por Maria, mãe de Jesus), palavras são
proclamadas orações recitadas, aí sim esta preparado o banquete com tudo o que
se possa imaginar, dos assados ao peixe está liberado toda a ceia que se
encerrará ás 18:00 h, quando a vela será apagada, e novas orações serão feitas.
Durante a festa há muitas danças e muita música[17] alegria é que não falta,
assim vive o cigano.
São devotos de santos como Senhora de Sant´Ana da qual
chamavam de cigana velha, de Nossa Senhora das Graças e da Lampadosa, Santo
Antônio, São Jorge e Santa Rita de Cássia e a padroeira dos ciganos nos Brasil
Nossa Senhora Aparecida[18], são muito difundidas entre os ciganos, em especial
sua padroeira Sara Kali, mais conhecida entre os ciganos do grupo Rom, os que
tem condições fazem sua peregrinação uma vez por ano na França, na cidade de
``Saintes Maries de la Mer´´, em Camarga, sul da França, a presença maior dos
ciganos[19] nesta devoção fora observada em meados do século XIX, é a festa das
santas do mar, é comemorada nos dias 24 e 25 de maio, há uma procissão e as
imagens são carregadas por ciganos cavaleiros guardiões do sepulcro da santa,
os cavalos que montam os cavaleiro ciganos não são de raça comum para os
ciganos são espécies do período magdaleniano 14 mil a 10 mil ªC, outros dizem
que estes belos animais são parentes dos puros sangues árabes, abandonados no
local por sarracenos, em sua expulsão, no local diz que no ano 40 da nossa era,
Maria Jacobé (que seria irmã da Virgem Maria), Maria Salomé (mãe de Tiago Maior
e João, apóstolos), Lázaro, Marta (irmã de Lázaro), Maria Madalena,
Maximiniano, Sidônio (cego curado por Cristo), foram pelos Judeus soltos ao mar
em uma embarcação sem provimentos, Sara (escrava das duas Marias), entra em
profundo desgosto e desespero ao ser deixada em terra, neste momento Maria
Salomé joga sua manta as águas, o tecido se solidificou permitindo que Sara
chegasse ao barco, ou seja um milagre, com o auxílio divino a embarcação
atravessa os mares e chega a segurança com todos vivos a região de Camarga, há
uma dispersão dos personagens, Sara permanece em Camargue, após a morte de Sara
e das duas Marias, suas relíquias foram guardadas por fiéis em um oratório, e
no século IX é erguida no local do oratório uma igreja, as criptas são postas
ao alto e no dia da comemoração descem para que fiéis possam toca-la e ganharem
com isso proteção da santa, curas de doenças e graças alcançadas, são
depositadas flores, fitas e saias que as ciganas levam de todas as partes do
mundo como prova de agradecimento, Sara se tona a padroeira do povo Cigano[20].
Uma visão que não agrada a muitos ciganos mas de debates até
hoje pela Europa como se refere em ”Discovery Chanel” na séria “Maria de
Magdala”, que Jesus teria tido uma sólida união com Maria Madalena e desta
relação teria nascido Sara que fora na balça com sua mãe Madalena, Sara teria
entre 12 a 15 anos, e que ela teria sido a mais sagrada linhagem de Jesus, para
compreender esta narração se deve despir-se dos conceitos religiosos e
observamos com olhos de pesquisadores com uma neutralidade de nossas
concepções.
Recentemente os ciganos ganharam mais um santo que é o beato
Zeferino Gimenéz Malla, conhecido como El Pelé, cigano espanhol, fora
beatificado pelo recém falecido Papa João Paulo II, a festa de beatificação
contou com milhares de ciganos na praça de São Pedro no Vaticano em Roma, a
canonização ocorreu no dia 14 de Maio de 1997, o santo nasceu em Lérida, nômade
se torna sedentário, com a negociação de animais se estabiliza financeiramente,
ajudando muitos ciganos, era muito cristão e seguidor das leis religiosas,
morre mártir, fuzilado por Republicanos em 2 de Agosto de 1936.
Observamos que a Igreja Católica Apostólica Romana, nunca se
retratou pelas perseguições e sua neutralidade ao holocausto dos ciganos na
Segunda Grande Guerra, somente no papado de João Paulo II, este pede perdão aos
ciganos em relação aos erros do passado cometidos pela Igreja, como presente a
beatificação de Zeferino Gimenéz Malla, El Pelé.
São os ciganos representados da ONU, Organização das Nações
Unidas, desde 1976. No Brasil o CEC, Centro de Estudos Ciganos fora criado em
1987, o primeiro da América Latina, presidido pelo presidente Mio Vacitte,
cigano respeitado do grupo Horarani, em 1990 fundou a União Cigana do Brasil,
que é filiada a ONU, e aliada a Internacional, Roma, Federation.
``Só com um trabalho intenso de esclarecimento no mundo
inteiro é possível acabar com a imagem negativa dos ciganos e assim melhorar
suas chances na sociedade onde vivem ´´[21].
[1] Cit. Gevegir, Rodrigo. 1997,p.92.[2] Os cabelos para os
ciganos são sinal de energia, de vitalidade, há inúmeras supertições sobre
cabelos no imaginário cigano, não admitem qualquer um tocar em seus cabelos.
``(...) Na fé cigana, a lua está freqüentemente relacionada
com os cabelos. Aquele que dormir sob sua luz, de cabeça totalmente descoberta,
perderá todos os cabelos, ou eles se tornarão completamente brancos. Para
apresentar bom crescimento, um homem deve colher água de um riacho com a mão
esquerda em conha, contra a correnteza, e derramá-la sobre a cabeça (...),
porque todas as pessoas que morrerem carecas são transformadas em peixe e
permaneceram nesta forma até terem juntados quantos fios forem necessários para
encher uma peruca (...) ( Cit. Leland, Charles Godfrey, 1992 p.29 )
em outra superstição cuspia-se na vassoura quando varria-se
debaixo dos pés de alguém, se não cuspir os filhos da pessoa serão carecas pelo
resto da vida. ( Cit. Fonseca Isabel. 1996 p. 63 ).
Lavam os cabelos e enxugam em toalhas separadas da que secam
o corpo, a água que é lavado o cabelo, é colocada em bacias, não é a mesma
usada para banhar o corpo.
Todos estes costumes supersticiosos hoje, são menos levado a
sério pelos nômades.
[3] Essas respostas mostram a crença no mítico inserida até
hoje entre os ciganos, (mesmo que hoje existam ciganos que se denominam
Evangélicos, e dizem não mais praticarem a vidência e a quiromancia)[4] Ciganos
que trabalham com o cobre são ciganos da linhagem Kalderach, provenientes da
Rússia. Fazem tachos como ofício batedo o martelo à folha de cobre formando
trabalhos espetáculares como tachos, panelas, bandejas... este som tem um ritmo
e um modo particular no ofício dos kalderasch que são passados de pai para
filho, infelizmente esta arte vem se perdendo.[5] Observamos o circo mambembe,
o circo nômade, este no Brasil surge com os ciganos.[6] Cit. China, 1936, p.
460.[7] Cit. Filho Melo Moraes. 1981,p. Somente os ciganos povo antigo,
deixaria ao povo brasileiro este passado de vestígios de oráculos e
superstições estes medos já faziam parte da Roma Imperial, e estava inserido em
toda a Europa, e os ciganos os adquiriram e os trouxeram para o Brasil.[8] Cit.
Filho Mello de Moraes. 1981,p. 47 e 51.[9] Esta cerimônia se difere bastante
dependendo do clã.[10] O juramento aos mortos é sagrado para os ciganos.[11]
Hoje observamos nos casais ciganos mais novos um receio de ter quantidade de
filhos, pois hoje há inúmeras dificuldades, não se tendo mais dez doze filhos
como no passado.[12] Fidelidade da mulher relacionado ao homem.[13] Trova de
Jeronimo Guimarães, trovador cigano da Cidade Nova, morreu em 6 de outubro de
1897.
Cit. Macêdo, Oswaldo. 1992.p.65.
Ciclo do nascimento, da vida e da morte, acontecendo a
todos, mas com destinos traçados diferentes segundo os ciganos.[14] Lado
feminino de Exu. Pomba Gira Maria Padilha, Cigana, das Almas, das Sete
Encruzilhadas, da Figueira, Sete Saias, Menina etc. entidades de
incorporação.[15] Cit. Carneiro, 1997, p. 34.[16] Cit. Heredia, 1974, p. 108 e
109.
[17] A música é o cigano, faz parte de sua alma, e está
presente em todos os momentos de sua vida, tocam e cantam o lamento que são
letras que falam dos seus sofrimentos e de suas perseguições, dos amores e das
tragédias, tocam e dançam o romanés que são danças ciganas com movimentos
exóticos e orientais, os calões de Espanha, dançam o Flamenco que é o ritmo
mouro, árabe e cigano, misturados, o toque é feito de acordo com o que o
bailarino dança, é não o dançarino ao ritmo da música, são os instrumentistas
que tocam com os sapateados flamencos, o cigano nasce já dançando ``el duende´´
que vive no Flamenco, são os mais exímios violinistas chegando alguns a sucessos
internacionais, são bailarinos perfeitos, entre ritmos ciganos estão
Malaguenha, Sevillanas, Soleá, Alegria, Rumba Gitana, Bulería, Farruca,
Seguiriyas, seus instrumentos de maior apreço são a Harpa, o violino, a
guitarra, o alaúde e o címbalo, mas são apaixonados por percussão, o Flamenco
não existe sem a percussão, tem também conhecimento de danças orientais, pois
afinal de contas é de lá que vieram também, o cigano nasce vive e morre com a
música.
[18] No dia 12 de Outubro, encontramos caravanas de ciganos
vindos de todas as regiões do Brasil para celebrar a festa de sua padroeira e
do Brasil Nossa Senhora Aparecida, em Aparecida do Norte cidadePaulista.[19] Há
muitos não ciganos também, pois é um culto popular na França, pois os ciganos
não duvidam que há pessoas que muito se familiariza a sua vida e forma de
viver, são apaixonados pelos ciganos, gostam dos nômades, possuem uma chamada
alma cigana, eles sabem reconhece-las e acreditam que estas pessoas foram
ciganos em outras vidas, ou melhor que possam ser reencarnação de ciganos.[20]
Revista Geográfica Universal, ed. Bloch Editores, junho de 1990. P. 106 à
115.[21] Palavras de Florin Cioba, presidente da União Romani. ( Cit. Jornal O
Globo, Caderno O Mundo, Domingo, 13 de Fevereiro de 2005.p.36)
Por RODRIGO GEVEGIR
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